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segunda-feira, 25 de maio de 2009

Sophia de Mello Breyner Andresen

Hoje, e para variar um bocadinho, apetece-me pintar o sonhar-a-pintura com palavras; recobri-lo com uma veladura ténue e sublime que, como uma suave brisa, nos possa tocar o coração.

Há palavras que se impõem e, embora não seja amante de poesia, seleccionei, para este momento, o poema Porque de Sophia de Mello Breyner Andresen. Vamos então “sonhar uma pintura”. A que resultar da nossa imaginação.

 Porque

Porque os outros se mascaram mas tu não

Porque os outros usam a virtude

Para comprar o que não tem perdão.

Porque os outros têm medo mas tu não.

 

Porque os outros são os túmulos caiados

Onde germina calada a podridão.

Porque os outros se calam mas tu não.

 

Porque os outros se compram e se vendem

E os seus gestos dão sempre dividendo.

Porque os outros são hábeis mas tu não.

 

Porque os outros vão à sombra dos abrigos

E tu vais de mãos dadas com os perigos.

Porque os outros calculam mas tu não.

 

No Tempo  Dividido e  Mar Novo”, Edições Salamandra, 1985, p. 79

 

A vida é também constituída por jóias preciosas como esta.

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